Victoria Guerra: "Provei que não sou só uma menina bonita"

Saiu de casa aos 15 anos para estudar Jornalismo, mas o coração levou-a até à TV. Quatro anos depois da estreia em <em>Morangos com Açúcar</em>, a actriz confessa que <em>Mar de Paixão</em> a fez crescer.
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A Elsa foi personagem mais desafiante que já representou?

Sim. Esta personagem teve tantos problemas... engravidar, o pai não querer a filha, depois perder o bebé... Emocionalmente, foi muito mais desafiante para mim do que as outras personagens. Claro que todas as personagens são diferentes, mas as outras duas que fiz foram simples, não tiveram muito desenvolvimento, e esta teve uma evolução enorme. Até porque não sou mãe, não sei o que é ter um filho, quanto mais o que é perder um filho! Tive de trabalhar imenso, gerir as emoções e conseguir que as pessoas acreditassem.

Onde foi buscar bagagem emocional para as cenas mais dramáticas?

Lembro-me de, quando era mais nova, o meu irmão ter desaparecido no parque durante uma hora. Recordei-me de como é que a minha mãe reagiu porque eu, Victoria, não tendo filhos, não sei bem como reagiria. Falei muito com a minha mãe, ela ajudou-me muito com esta personagem.

Houve dias desgastantes?

Sim, cheguei a passar um mês a chorar, todos os dias. E não era só o choro, havia cenas em que tinha de mostrar o desgaste emocional, a maneira de falar, respirar e andar tinham de ser diferentes. Ficava psicológica e fisicamente cansada.

Depois de Mar de Paixão, acha que conseguiu provar que é mais do que uma menina bonita que aparece nas novelas?

Acho que sim. Tenho noção de que entrei para a televisão por ser uma carinha bonita, mas até na minha primeira personagem, em Morangos com Açúcar, consegui provar que não sou só uma menina bonita. Nesta personagem consegui fazer o oposto. A Elsa é mais dramática e mais adulta. Ela era uma menina e transformou-se numa adulta e eu, Victoria Guerra, durante este processo também senti um desenvolvimento como pessoa. Acredito que quem vê o meu trabalho percebe que sou mais do que uma menina.

As gravações de Mar de Paixão terminaram. O que está a aproveitar para fazer?

Estou a descansar (risos). Participei numa curta-metragem do realizador André Badalo, Catarina e os Outros e, em princípio, vou fazer um filme em Janeiro [Outro Sangue, do realizador Pedro Varela].

Neste momento estão a acontecer várias transferências de actores da TVI para a SIC. Já foi convidada?

Não.

E se fosse?

Não digo que nunca fui assediada por outros meios, mas neste momento gosto de estar na TVI.

Mas não é exclusiva da TVI.

Não sou exclusiva, gosto que isso fique claro. Sou cara da TVI, mas não sou exclusiva da TVI. Posso amanhã trabalhar na SIC ou na RTP. Desde que esteja a trabalhar e esteja feliz onde estou, é o que interessa.

Sente que há muita competição na televisão?

Quando fiz a primeira novela da noite [Fascínios] sentia mais, porque saíamos dez dos Morangos e dez iam para a novela da noite. Todos somos substituíveis. Arranja-se outra menina loirinha de olhos azuis facilmente. Vou lutando para que isso não aconteça, para que no meu caso não me substituam por outra menina loirinha de olhos azuis (risos). Trabalho para não ser facilmente substituível.

A sua colega Sara Barradas disse à Notícias TV que tem uma cláusula no contrato que a protege de fazer cenas de nudez. E no seu caso?

Confesso que não sei (risos). É o meu pai, que é advogado, e a minha agência que tratam dessas coisas.

Faria cenas de nudez?

Numa novela não sei se faria sentido. Em cinema há um público específico que quer ver aquilo, em novela pode calhar alguém que não esteja preparado para ver uma situação dessas. Neste momento acho que não faria. Sou nova, tenho de ganhar alguma credibilidade junto do público. Quero que primeiro acreditem em mim como actriz e depois vejam o resto.

Ganha bem?
Em relação ao salário mínimo nacional e para uma miúda de 21 anos, recebo muito bem. Na minha área, noutros países, há quem ganhe muito mais. E, comparado com colegas meus, há uma diferença enorme mas... eu trabalho há quatro anos. Não posso querer receber o mesmo que uma pessoa que trabalha há 30, 40 anos e já fez tudo e mais alguma coisa.

É uma mulher precavida? Faz poupanças?

Sou, mas não era! Quando temos 17 anos e dinheiro no banco a primeira coisa que queremos fazer é ir às compras (risos). Confesso que às vezes sou um bocado consumista. Mas desde que comecei a trabalhar sou eu quem paga as minhas contas, fui eu que paguei o meu carro, pago a minha renda. Habituei-me a gerir as minhas contas e a poupar.

O que é que mudou em si desde os Morangos com Açúcar?

Mudei muito, principalmente no último ano. Cresci muito psicologicamente. O facto de ter sido mãe na novela despertou um bichinho aqui dentro. Já penso que, um dia, gostava de ser mãe. Sinto também que quero trabalhar muito nesta área. Quero trabalhar hoje e amanhã quero ter uma carreira.

Sente que perdeu uma parte da sua adolescência por ter começado a trabalhar tão cedo?

Às vezes falo com a minha mãe sobre isso e sinto isso não tanto porque comecei a trabalhar nesta área mas porque saí de casa muito cedo. As minhas amigas saem à noite, vão à faculdade e eu já pago as minhas contas. Mas ao mesmo tempo acho que ganhei imensas coisas. Já tenho o meu nome no mercado, ganhei maturidade e vou poder poupar dinheiro muito mais cedo (risos). Aos 30 anos já terei um bom pé-de-meia e muitos anos de experiência.

Como foi separar-se da sua família aos 15 anos?

Foi difícil porque eu, os meus pais e os meus três irmãos somos muito unidos. Sinto que, quando vou a casa, a minha irmã já é uma mulher e quando saí de casa ela ainda nem falava. Os meus pais [que vivem em Loulé] apoiam-me imenso, falo 20 vezes por dia com a minha mãe, trocamos mensagens e fotografias. Apesar de estar longe fisicamente, estamos próximos e muito unidos.

O facto de o seu namorado, Luís Pissarra [operador de câmara], trabalhar no mesmo meio facilita a vossa relação?

Sim, porque ele também tem horários esquisitos (risos). Compreendemos a profissão um do outro, ambos somos trabalhadores e temos os mesmos objectivos.

Quer casar?

Não, porque para mim o casamento é uma questão religiosa e eu nunca o fui. O meu pai é católico, a minha mãe é protestante e eu e os meus irmãos nunca fomos obrigados a ir à igreja e sempre tivemos a liberdade de escolher.

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